Orfeão – ouvir e compreender a música de Porto Alegre. Assim se chama a nova série de concertos promovida pelo Studio Clio em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura. A proposta da série - por coincidência - não poderia ser algo mais afinado com a meta deste blog:
A série valoriza músicos e músicas da cidade, ou aqui atuantes, com repertórios locais e internacionais. Os concertos Orfeão valorizam também a compreensão da linguagem musical, oferecendo diversos recursos didáticos a cada concerto.
A quem não conheça o Studio Clio e, particularmente, a figura do Nosso Homem Renascentista, Prof. Dr. Dr. Chico Marshall, poderia passar pela cabeça a idéia que se trate de mais um projeto de natureza provinciano-ufanista, dos quais nossa terra é pródiga. Nada poderia estar mais distante da verdade, entretanto:
Em alusão ao ano da França no Brasil, a série Orfeão apresenta "Sonoridades francesas e brasileiras", um painel da música francesa do final do século XIX e início do século XX, época em que ela influenciou diretamente a música brasileira. Neste contexto, o Collegium Musicum Porto Alegre apresenta também obras de Heitor Villa-Lobos, um dos compositores brasileiros que mais intensamente viveu as relações entre Brasil e França.
Correndo sério risco de ser acusado de francofilia , o Trio Giverny (i.e. Collegium Musicum, neste caso) volta a interpretar a Sonata para Flauta, Viola e Harpa de Claude DEBUSSY - uma das grandes obras da música de câmara do início do séc. XX, e virtual razão da existência deste Trio, bem como de todos os trios de idêntica formação.
Outro destaque deste concerto é participação vocal e muito especial de Cíntia de los Santos, que interpreta duas canções de Gabriel FAURÉ (com harpa) e duas canções de Albert ROUSSEL sobre sonetos do grande poeta renascentista Pierre de RONSARD. Estas últimas têm a interessante particularidade de ter sido compostas para soprano e flauta, tão-somente, e possivelmente serão ouvidas em Porto Alegre pela primeira vez. "Rossignol, mon mignon" é a versão renascentista daquilo que nós chamaríamos uma canção de dor-de-cotovelo. Enquanto os arabescos melódicos da flauta representam o pássaro irrequieto, a parte vocal chora um amor não correspondido. "Ciel, aer et vens" é um soneto de despedida, musicado por Roussel em ritmo de siciliana, com um estilo de contraponto que evoca a música antiga. Encontrei esta versão portuguesa:
"Céu, ar e ventos" - Pierre de Ronsard
(Trad. de Fernando Torquato Oliveira)
Céu, ar e ventos, píncaros dispersos,
colinas e florestas verdejantes,
rios sinuosos, fontes borbulhantes,
campos ceifados, bosques tão diversos,
semi-abertos covis, antros imersos,
pastagens, flores, ervas rastejantes,
vales longínquos, praias coruscantes,
e vós, rochedos, que guardais meus versos,
desde que partirei, mas sem dizer
adeus ao seu olhar, para esconder
esta emoção que nunca terá fim;
eu vos suplico, céu, ventos e montes,
pastagens e florestas, rios, fontes,
antros, flores: - dizei-lhe adeus por mim!
Além das canções de Fauré e Roussel, Cíntia junta-se ao Trio para mostrar trechos da Cantilena (Bachianas Brasileiras nº 5) de VILLA-LOBOS e do Dueto das Flores, da ópera Lakmé, de Leo DELIBES. Nosso violista e mega-agitador cultural, Cosmas Grieneisen, encontrou um elo de ligação entre as Bachianas e Lakmé. Quer saber o que é? Venha e ouça...
Complementam o programa - que contém uma mescla cuidadosamente escolhida de "música desafiadora" e "clássicos populares" - mais cinco peças instrumentais de Saint-Saëns, Fauré, Debussy, Villa, e Jacques IBERT.
Artur Elias, Cosmas Grieneisen, Norma Rodrigues: Trio Giverny
23 de julho, quinta-feira, às 20h30min
ingressos a preços populares:
R$ 15,00 (público em geral)R$ 10,00 (professores, estudantes e idosos)
no Studio Clio
R. José do Patrocínio 698 - Cidade Baixa
fone (51) 3254 7200
(tem estacionamento conveniado, visite a página para saber detalhes)
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